Lembro como se fosse hoje. Eu era apenas uma menina e sonhava com o dia em que seria uma mulher, adulta e independente. Eu trabalharia em algo que amasse, seria tão inteligente quanto rica e teria tudo o que tinha direito. Como eu estava enganada.
Com 15 anos, no meio da minha adolescência, meu único objetivo era fazer um intercâmbio e passar da linha dos 18 anos, porque aí sim, seria adulta, afinal, atingiria a maior idade. Hoje, pensando nisso, eu balanço a cabeça com um sorriso nos lábios e penso: “Eu não poderia estar mais enganada”.
Eu achava que ser adulta era apenas questão do número de vezes que a terra completava seu ciclo ao redor do sol comigo sobre ela. Porém, para minha surpresa, quando completei 18 anos, não houve nenhuma mudança monumental. Eu apenas sabia que poderia tirar a carteira de motorista e comprar cerveja legalmente em qualquer lugar, mas ainda morria de medo de fazer aquilo.
A idade é só um número estúpido, alguém disse. Eu não posso concordar mais. O que importava aquele número se eu não me sentia daquela forma? Eu conheço tantas pessoas mais jovens que eu mas que ainda assim são “mais velhas”. Eu achei que com 26 anos eu seria alguém completamente diferente.
A imagem que eu tinha de um adulto, quando era adolescente, era de que eles eram sérios, bem resolvidos e fodões. E hoje, como um ser humano adulto (pelo menos na idade), eu percebo que não sou nenhuma dessas coisas e estou longe de ser.
Com 18 anos eu achava que sabia de tudo. Eu me sentia tão inteligente e cheia de si. Na minha cabeça eu era mais inteligente até do que pessoas mais experientes, simplesmente porque sim. Hoje eu percebo que não só eu não sabia de nada, Jon Snow, como eu estava completamente enganada.
Eu poderia ser inteligente na escola, eu sabia usar a fórmula de Bhaskara – às vezes –, porém, eu simplesmente era ignorante com relação à todos os assuntos fora dela. Eu fingia que sabia de tudo, fingia que amava política e economia quando eu não dava a mínima para isso.
Os anos foram passando e a idade foi avançando e eu simplesmente fui me dando conta do quanto eu parecia saber cada vez menos. Cada vez mais os planos, as expectativas, os sonhos, foram se tornando confusos e estranhos. Cada vez mais eu percebia que todo o conhecimento adquirido na escola não havia me ensinado nada e que eu jamais seria aquele alguém que imaginava quando atingisse a marca dos 20.
Em diversos momentos eu me sentia tão confusa que eu simplesmente não sabia se estava sonhando os meus sonhos ou os sonhos dos outros. Eu via tudo aquilo escorrendo entre os meus dedos e eu não sabia o que fazer. Eu simplesmente não sabia que rumo tomar. Eu apenas sabia que nada do que eu estava fazendo parecia dar certo. Mas talvez fosse somente porque eu não sabia onde queria chegar.
Eu continuava e, por vezes, continuo vagando sem rumo, como um barco à deriva esperando o vento soprar. Tudo que eu sabia era que eu não sabia onde queria ir. A angústia, o peso desse fardo era tão insuportável. Quando eu tinha 15 anos eu sabia que com 25 teria minha vida resolvida. Eu deveria ser muito mais do que eu era. Por que eu ainda não sou? Era só isso que eu conseguia pensar.
A angústia me consumia, “eu não estou nem perto de ser e ter tudo que eu esperava” dizia a mim mesma. O que eu fiz de errado? Todos aqueles anos na faculdade não serviram para nada. Eu continuo trabalhando em algo que não me deixa feliz. Eu joguei todos aqueles anos da faculdade no lixo abandonando a carreira que eu tinha escolhido.
O pior de tudo é que eu nem sei que carreira quero seguir. Eu gosto de tanta coisa, mas não gosto de algo tanto assim. Eu deveria ter estudado mais. Eu deveria ter pensado melhor antes de começar a faculdade. Eu não deveria… Eu não sabia que seria tão difícil.
Eu achava que seria adulta, adulta mesmo, quando tivesse meus 24 anos, afinal, pessoas com 24 anos são velhas, não?! Nossa, como eu era sem noção. Eu tinha certeza de que com meus 20 anos já saberia o que queria fazer da vida e estaria trabalhando com isso quando tudo que faço é rumar de uma atividade à outra, indecisa. Eu olhava para todos aqueles adultos vivendo suas vidas de adultos, sendo adultos e eu pensava: nossa, como é legal!
Hoje eu sei que eu não quero ser uma adulta como aquelas pessoas que eu via, sisudas e estressadas trabalhando em seus empregos chatos. Eu quero ser legal e engraçada e jovem por dentro como eu sempre fui, não importa quantos anos eu tenha.
Eu ainda tenho tantas dúvidas, tantas incertezas. Mas hoje eu sei que está tudo bem não saber de nada. É melhor reconhecer a ignorância do que achar que sabe de tudo e tornar-se cada dia mais burro. Hoje eu sei, inclusive, que está tudo bem não saber onde está indo, que rumo tomar.
Não são todas as pessoas que nascem sabendo o que amam fazer. Na verdade, acho que a maioria não sabe e muitas vezes nem ao menos se questiona, apenas continua fazendo tudo do mesmo jeito. Pelo menos eu estou tentando. Também é “ok” abandonar aqueles sonhos que passaram da data de validade, você não é obrigada a sonhar em ser bombeiro a vida toda só porque quando era criança este era seu sonho.
Eu não sei quem foi que disse que você precisa ser bem-sucedido antes dos 30. Eu não sei quem foi que disse que você precisa de uma faculdade para ser alguém na vida. Eu não sei quem foi que disse que você precisa de dinheiro para ser feliz. Eu sinceramente não sei de tanta coisa, mas eu sei de uma que é mais importante que todas estas juntas. Eu sei que está tudo bem se eu não for tudo isso que a sociedade espera de mim, simplesmente porque eu disse que está tudo bem se eu não for o que os outros esperam de mim.
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